Arca tumular de Fernão Sanches

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Descrição

Datada da primeira metade do século XIV, trata-se de uma arca tumular com jacente, em decúbito lateral direito que, apresenta decoração nos faciais da cabeceira, pés e numa lateral, assim como um baldaquino.

O cavaleiro assenta a cabeça em dois almofadões e a mão direita está colocada sob a face, numa posição natural, como que adormecido. A mão esquerda descansa sobre o peito e toca discretamente na espada, indicativo da sua qualidade de cavaleiro e sublinhando a sensação de naturalidade que apresenta nesta morte que não a morte trágica mas, sim uma passagem para algo mais
grandioso.

A sua expressão é serena, pois não há motivos para preocupação quando se é um cavaleiro da fé, um homem honrado e virtuoso.
Ao seu lado, encontram-se dois anjos e aos pés, em repouso, um mastim.

Nas palavras de Carla Varela Fernandes, “é na arca e na sua decoração em baixo e médio-relevo que se concentra o melhor da arte deste escultor ou oficina, em especial nas cenas que se revelam no facial maior, não sendo demais apelidá-lo de “obra-prima da escultura gótica portuguesa”.

À cabeceira fez-se representar o Calvário, Cristo é a figura central, ladeado por São João e pela Virgem, sob três arcos quebrados.

No facial oposto, inseridos na mesma moldura arquitectónica encontramos a representação da Anunciação, ao centro encontra-se um grande vaso, com representação de folhas e três açucenas que se destacam, de um dos lados o São Gabriel Arcanjo, do outro a Virgem.

É portanto, no facial lateral que se encontra o baixo relevo com a representação da caça.
Aliás, neste painel estamos perante dois tipos diferentes de actividade cinegética. Os episódios estão representados com uma orientação da esquerda para a direita. À esquerda esculpiu-se uma cena de cetraria, onde o falcoeiro, a cavalo, segura na mão direita, enluvada, uma ave de presa. É possível identificar o cavaleiro como sendo o próprio Fernão Sanches. Encontra-se junto a uma árvore na base da qual se encontra um cão de parar que, se apoia no tronco, cumprindo a sua missão de localizar e levantar as peças de caça.

A qualidade deste painel é superior aos anteriormente referidos, sendo maior a expressão plástica, o cuidado com o enquadramento cénico e o detalhe no tratamento da árvore e da ave ou a distinção entre a luva e o resto da túnica.
Na secção seguinte, Fernão Sanches investe com lança contra um javali. Sob a representação equestre, encontram-se dois cães de parar que acompanham a investida e em segundo plano, criando um preenchimento equilibrado do painel, encontram-se dois ramos de árvores, onde se penduram os moços, um deles segurando um olifante.

Parece-nos que é precisamente em resposta a esse chamamento que surge a última figura deste facial, que se encontra isolado, da restante peça, pelo motivo anteriormente referido e que deu lugar àquela lacuna.

Assim, a figura masculina aproxima-se com a lança ao ombro e uma corda enrolada no braço, tratando-se, segundo Carla Varela Fernandes, do “piqueiro que induziu o porco selvagem até ao cavaleiro prepara-se, agora que a presa está ganha, para a aprisionar”.

Autoria

Sem Autor.

Época/Periodo Cronológico

Século XIV (primeira metade).

Materiais

Escultura e relevo em pedra.

Medidas

Não aplicável

Estado de Conservação

Deficiente

Proveniência

A arca tumular de Fernão Sanches encontra-se, actualmente, no Museu Arqueológico do Carmo, embora a proveniência seja Santarém, mais propriamente, a Capela do Rosário de Nossa Senhora da Oliveira.

Fernão Sanches era filho bastardo do rei D. Dinis, terá sido entregue aos cuidados de D.ª Isabel, juntamente com os seus irmãos Afonso Sanches e Pedro Afonso. Em 1315 casa com D.ª Fruilhe Anes de Sousa (Briteiros), “na linha da política matrimonial dos bastardos régios com famílias da alta nobreza em especial com a casa de Sousa”.

Falece em Julho de 13292, nos paços de Recardães, sendo sepultado na capela do Rosário, no Mosteiro de São Domingos das Donas de Santarém.

Actualmente, este Mosteiro já não existe, foi profanado, transformado em palheiro, palco de teatro e por último Praça de Touros.

É por intervenção de Joaquim Possidónio Narciso da Silva3 que em 1866 esta peça, aparentemente dissimulada numa das paredes da capela é recolhida ao Museu do Carmo, juntamente com as outras

Bibliografia associada

FERNANDES, Carla Varela. – Vida, fama e morte. reflexões sobre a colecção de escultura gótica. In Construindo a memória: as colecções do Museu Arqueológico do Carmo. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, 2005;

PIZARRO, José Augusto de Sotto Mayor. – Linhagens Medievais Portuguesas. Genealogias e Estratégias (1279-1325). vol. I, Porto: Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de letras da Universidade do
Porto, 1997 (policopiado);

PIZARRO, José Augusto de Sotto Mayor. – D. Dinis. Lisboa: Círculo de Leitores, 2005;

SILVA, Joaquim Possidónio Narciso da Silva. – Secção de Archeologia. In Boletim da Associação dos Arqueólogos, tomo III, 2ª série, nº1. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1882;

Instituição ou Proprietário

Museu Arqueológico do Carmo

Localização
Largo do Carmo, 1200-092 Lisboa – 38° 42′ 44″ N 9° 8′ 24″

Esta ficha foi elaborara por: Renata Alves

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